A hotelaria no Brasil tem seu início considerado como sendo o da acomodação dos índios em terras brasileiras feita pelos portugueses. É quando de sua chegada, estes inserem noções de hospedagem aos não civilizados índios. (CNC, 2005)
Descoberto há cerca de 500 anos e tendo sua colonização se iniciado há pouco mais de três séculos, o Brasil é um país muito jovem, e nossa tradição em hospedagem foi baseada em modelos europeus e, posteriormente, norte-americanos. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998, p. 81)
A célebre carta ao Rei de Portugal, Dom Manuel, do escrivão Pero Vaz de Caminha retrata o primeiro registro desse episódio: “O Capitão mandou pôr por baixo da cabeça de cada um seu coxim (...). E deitaram um manto por cima deles; e consentindo, aconchegaram-se e adormeceram.” (CAMINHA, 1963)
O trecho acima narra o primeiro contato entre duas tradições de hospitalidade: a indígena (que recebeu os portugueses como sendo “mensageiros de Tupã”) e a portuguesa, que herdara a visão sagrada de hospitalidade dos antigos. (CNC, 2005)
Caminha nos conta que o Capitão recebeu os indígenas oferecendo-lhes comida. Porém, não quiseram comer quase nada do que lhes serviam: pão e peixe cozido, doces, mel, figos passados. “Se provavam alguma coisa, logo a lançavam fora”, conta o escrivão. “E então se estiraram de costas na alcatifa, a dormir sem procurarem maneiras de encobrir suas vergonhas”. Foi então que Cabral mandou pôr almofadas sob suas cabeças e um manto para cobri-los. (CNC, 2005)
Ao chegar ao novo mundo, os portugueses precisavam colonizar o território, para impedir que outros povos o colonizassem. Para tal, era necessário colonizar, não somente o litoral brasileiro, como também, o seu interior. Foi daí que surgiram as expedições bandeirantes. (CNC, 2005)
Os caminhos abertos pelos bandeirantes, usados no trânsito entre o litoral e as regiões mineradoras fizeram surgir os primeiros focos de hospedagem no Brasil. Eram ranchos rústicos em que havia atividades comerciais no piso inferior e no o outro andar era destinado à acomodação dos viajantes. (CNC, 2005)
Esse tipo de hospedagem durou até meados do século XX, agora, também com a atividade agropecuária que movimentava esses caminhos com o transporte de gados bovinos e eqüinos. Foi quando começaram a surgir mais estradas e caminhões para transportá-los, o que acelerou as viagens. Antes, os rebanhos faziam viagens de milhares de quilômetros em numerosas comitivas. Hospedavam-se em sítios próprios para acolher esse tipo de viajante, sítios que possuíam até mesmo pasto com água para os animais. O pagamento da hospedagem, não raro, era feito com cabeças de gado, o que incrementava o valor da fazenda. (CNC, 2005)
Nas cidades do Brasil-Colônia, a hospitalidade típica dos portugueses (que a consideravam como sendo sagrada) fez retardar a consolidação da hotelaria como atividade comercial. Na maioria das residências de todo país, era imprescindível que tivesse quartos para abrigar os viajantes. Algumas vezes essa hospedagem tinha cunho político e material. (CNC, 2005)
Assim como ocorreu na Europa, as instituições de caráter religioso da ordem católica abrigavam muitos viajantes em hospedarias, que eram construídas ao lado dos mosteiros. Além disso, a Igreja em vários pontos do país construiu “hospícios” (do latim hospitium, hospedagem, pousada) para acomodar religiosos em viagem. (CNC, 2005)
Um episódio que, com certeza, fez aumentar a quantidade de hospedarias no Brasil foi a chegada da família real no Brasil, em 1808, o que gerou um “choque de demanda” e a possibilidade de expansão da hotelaria. O Brasil nunca havia visto tamanha movimentação nem em três séculos de existência. E em 1808 chega uma tropa com mais de 10 mil pessoas contando com a família real, todos os nobres, os oficiais superiores, os altos funcionários e suas famílias. Somente a bagagem dos tripulantes foi colocada em 14 navios abarrotados. Assim, a atividade hoteleira começou a encontrar os motivos para sua expansão. (CNC, 2005)
Além disso, a chegada da família real trouxe muitos investimentos de capitais estrangeiros, a baía de Guanabara passou a ficar cheia de navios, o mercado ficou abarrotado de produtos importados e as edificações se multiplicaram, por que, também, muitos estrangeiros aqui desembarcavam. (CNC, 2005)
A partir de então começou a chegar às ruas o vocábulo “hotel”, que vinha da boca de estrangeiros, que o requisitavam, ainda sem sucesso. Sendo uma palavra de origem francesa, até 1813, ela ainda não estava no dicionário da língua portuguesa. Mas, logo, as casas de hospedarias dos mais variados níveis começaram a utilizar o termo, que lhes conferia mais prestígio. (CNC, 2005)
Porém, a imprensa registrava que os hotéis da cidade não passavam de restaurantes. Um bom exemplo foi o Hotel Pharoux, criado em 1817 como um restaurante, dois anos mais tarde, já oferecia ao cliente não apenas boa comida, mas também quarto mobiliado. Em 1838, já era o estabelecimento de maior prestígio no Rio Imperial, ponto de reunião de estrangeiros. A figura 1.A mostra um hotel da época, com restaurante no piso inferior e acomodações hoteleiras no 2º piso. (CNC, 2005)
Figura 1.A: Grande Hotel da la Paz
“As pensões localizavam-se um andar imediatamente abaixo da residência do proprietário, que ainda explorava no térreo uma mercearia ou empório de secos e molhados.” (CÂNDIDO & VIERA, 2003, P.38)
O Rio foi o pioneiro na expansão da hotelaria no Brasil, justamente pelo súbito aumento do fluxo de estrangeiros. Outros mercados turísticos brasileiros viriam a crescer apenas algumas décadas depois. (CNC, 2005)
Houve uma época em que o desenvolvimento da hotelaria no Rio e em algumas cidades do Estado de São Paulo foi maior do que o normal. Foi na época em que os cassinos tiveram seu apogeu. Muitos hotéis eram construídos para ser sedes de cassinos. (CÂNDIDO & VIERA, 2003)
Hotelaria no mundo
Na caracterização da hotelaria internacional, percebem-se as peculiaridades da hotelaria nos Estados Unidos, que foi formada, especialmente, em margens fluviais. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
Inicialmente, a hotelaria americana obedeceu aos critérios europeus, em especial os ingleses. Mais tarde foram-se formando vilarejos no oeste do país. Lá apareceram os sallons, que eram bares e restaurantes que ofereciam comida, bebida e diversão a que os visitasse. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
Assim como na Europa, os Estados Unidos da América (EUA) também obteve um bom impulso no ramo hoteleiro devido ao aumento na utilização das carruagens. Porém, da mesma forma, o declínio veio pouco depois, com a chegada das ferrovias, que aceleraram as viagens, o que diminuiu a quantidade de hóspedes nos hotéis; já que as viagens já não demoravam mais tantos dias como antigamente. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
Os hoteleiros tiveram que se adaptar a nova tendência mundial. Modificando o endereço de suas instalações para mais perto das ferrovias. Os que tiveram essa iniciativa prosperaram. Mas muitos tiveram que fechar as suas portas. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
Uma peculiaridade da hospedagem nos EUA foi o surgimento, nas margens dos rios navegáveis, de hotéis de apoio aos barcos fluviais; que costumavam apresentar defeitos, levando alguns dias para serem sanados. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
Os primeiros grandes hotéis, entretanto, surgiram na costa do Atlântico; já que naquela região a navegação marítima possuía intensa movimentação de passageiros. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
A partir da 2º guerra mundial houve a possibilidade de maiores investimentos na área do turismo. Foi o que fizeram diversos países como a Itália, Espanha, Noruega, Suécia, Dinamarca, que investiram fortunas em turismo. Tal fato estimulou e muito a construção de hotéis nas capitais e nos principais centros de atração turística do mundo. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
Esse foi o ponto de partida para criação de corporações hoteleiras, cujos nomes são conhecidos por todo mundo: Accord, Holiday Inn, Hilton, Meridien, Sheraton, etc. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)
O Lincoln Hotel, em Nova York, é um exemplo típico desse investimento. Nos anos 50 investiu bilhões de dólares e se transformou no ultra moderno Manhattan. (CAMPOS & GONÇALVES, 1998)